Morning Call
Sem agenda, tarifas de Trump continuam no foco
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[23/01/25]
… A participação virtual de Trump no Fórum de Davos, prevista para 13h (BSB), é o destaque dos mercados, em mais um dia sem agenda. O presidente dos EUA estaria planejando responder a perguntas de executivos europeus, segundo fontes da agência DJ. E é aí que mora o perigo. Ele vai falar de tarifas? Vai continuar brando e estratégico como se mostrou até agora? Trump pegou leve com a China, derrubando o dólar para baixo dos R$ 6, mas já ameaçou o México, o Canadá e agora a Rússia. “Tem que acabar logo com essa guerra ridícula [com a Ucrânia] ou sofrerá sanções e tarifas dos EUA.” O Kremlin não se abalou e disse que não tem pressa. Está todo mundo dizendo que Trump só está blefando e isso não é bom para o jogo. Uma hora dessas, ele pode querer provar que com ele ninguém brinca.
… A percepção de que as coisas vão acontecer de forma mais tranquila no segundo governo de Trump é muito prematura e recomenda um otimismo cauteloso. Os mercados vão vivendo um dia de cada vez, sabendo que enfrentam o risco de volatilidade.
… Análise publicada ontem pela Eurasia aponta que a UE pode propor uma cooperação mais estreita com os EUA contra a China, na tentativa de agradar Trump e evitar as tensões comerciais para o seu lado.
… Para o Brasil, a grande notícia é o cuidado que Trump está mostrando com a China, tanto é que, apesar da queda do minério de ferro e do petróleo, a menção à alíquota de 10% não impediu uma forte correção do câmbio (abaixo).
… Agora é esperar 1º de fevereiro para ver se a ameaça de tarifa de 25% aos produtos importados do Canadá e do México se concretiza.
… Se Trump continuar legal, é possível que a aposta em tarifas mais brandas limite o impacto inflacionário e retome a discussão de que o Fed possa cortar os juros em ritmo menos conservador. Na próxima semana, tem Superquarta, com Fomc e Copom.
… Um dólar mais fraco frente ao real melhora a perspectiva para o resultado da balança comercial brasileira.
… Dados preliminares divulgados ontem pelo BC revelaram que fluxo cambial do Brasil foi negativo em US$ 3,804 bilhões de 1º a 17 de janeiro. O canal financeiro teve saída líquida de US$ 2,127 bilhões e o comercial, saldo negativo de US$ 1,677 bilhão.
… Os números porém, são anteriores à posse de Trump, no dia 20, e podem melhorar daqui para frente.
FORÇANDO A BARRA – De olho na popularidade de Lula em ano pré-eleitoral, o governo já assume abertamente os seus planos, antecipados pelo Valor, de baixar a inflação à força, começando pelos preços dos alimentos.
… O jornal informou que o governo estuda medidas que envolvem corte de taxas de juros cobradas pelas lojas nos cartões de vale-alimentação e venda de remédios em supermercados, para ampliar escala e reduzir custos.
… Segundo a reportagem, em reunião no Palácio do Planalto em novembro, indústrias e varejistas passaram ao presidente Lula um conjunto de sugestões para amenizar as pressões na inflação dos alimentos.
… O ministro Rui Costa (Casa Civil), que agora virou uma espécie de porta-voz da esperança e deu de falar de tudo, confirmou ontem em entrevista que o governo “vai fazer intervenções que barateiem os alimentos”.
… Horas depois, a sua pasta foi obrigada a emitir uma nota para corrigir a trapalhada do tom da declaração, desmentindo que esteja em discussão uma “intervenção de forma artificial” para reduzir os preços dos alimentos.
… À noite, falando à CNN, o ministro consertou as palavras, disse que não haverá “intervenções”, mas “medidas”.
… Só troca seis por meia dúzia, muda para deixar igual, já que a essência é a mesma. A economista Andrea Damico, CEO da consultoria Buysidebrazil, diz ver com muita preocupação a tentativa de baixar a inflação “na marra”.
… “O que funciona para controlar preço, qualquer que seja, para controlar a inflação, é a política monetária. Qualquer outro tipo de medida alheia a essa não funciona, nem empiricamente, nem teoricamente”, acredita.
… Ela reforça que a atribuição de perseguir a meta de inflação se deve exclusivamente ao BC e relembra o case de Dilma Rousseff, que tentou represar os preços de energia e gasolina, e depois viu uma explosão dos administrados.
… Alexandre Maluf, economista da XP, concorda que, historicamente, intervenções contra a inflação não são bem-sucedidas. Andrea Angelo, estrategista da Warren, duvida que as medidas cogitadas reduzam os preços.
… Rui Costa disse que o governo deve fazer nesta semana reuniões com ministérios para afunilar uma proposta para conter a alta do preço dos alimentos e confirmou que a redução da taxa do vale alimentação está em estudo.
… Já a mudança da data de validade dos produtos, proposta pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), dificilmente será adotada, segundo ele, e a venda de remédios em supermercados precisa ser discutida com a Saúde.
MAIS AGENDA – Num dia sem indicadores mais relevantes, NY observa o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA (10h30), que devem aumentar em 2 mil, para 219 mil.
… Os estoques americanos de petróleo devem cair 500 mil barris, no dado que o DoE divulga às 13h. A Comissão Europeia informa o Índice de Confiança do Consumidor de janeiro, que deve ficar em -14, de -14,6 em dezembro.
… O BC da Turquia decide juros (8h), com expectativa de queda a 45% ao ano, contra 47,5% atualmente.
… À noite, o Japão informa o CPI de janeiro (20h30) e os PMIs da indústria, dos serviços e composto medidos pela S&P Global e o Jinbun Bank (21h).
… Por aqui, o presidente Lula se reúne (15h) com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa e Sidônio Palmeira (Secom). A FGV informa o IPC-S da 3ª quadrissemana de janeiro (8h). O CMN se reúne às 9h.
AFTER HOURS – A Alcoa teve lucro e receita acima do esperado no 4Tri24 e guidance positivo, mas a ação recuou 1,37% no after hours de NY, depois de uma reação inicial positiva.
… A companhia teve lucro líquido de US$ 202 milhões no último trimestre do ano passado e lucro por ação ajustado de US$ 1,04, acima da projeção de US$ 0,95.
… A receita foi de US$ 3,5 bilhões no período, também acima do projetado, de US$ 3,3 bilhões.
… A Alcoa espera que a produção total do segmento de alumínio em 2025 fique entre 2,3 e 2,5 milhões de t, mais que em 2024. Os embarques do metal devem variar entre 2,6 e 2,8 milhões de t.
ROUND 6 – A briga em torno do piso psicológico dos R$ 6 foi finalmente vencida, com o dólar à vista furando esta marca e atingindo a menor cotação em quase dois meses. O ímpeto vendedor teve dois drivers: Trump e a taxa Selic.
… A mudança de tom do presidente dos EUA no discurso protecionista, não tão radical na ameaça de aplicação de tarifas aos chineses, repercute bem entre os emergentes, com o risco mais esvaziado de guerra comercial.
… Ainda é cedo para confiar, mas a abordagem bem menos agressiva de Washington traz à tona a esperança de impacto inflacionário menor com as tributações mais leves, abrindo espaço para mais cortes de juro pelo Fed.
… O cenário vai se tornando ideal para o carry trade, com os investidores inclinados a tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos (EUA) e investir em outro que ofereça taxas mais altas, como é o nosso caso.
… Nesta mudança de rotação, o capital estrangeiro já tem demonstrado maior interesse em voltar para cá.
… O Copom não pode dar mole, já tem na agulha pelo menos mais duas doses de alta de 1pp da Selic (semana que vem e em março) e o guidance deve continuar conservador, diante da inflação desancorada e todo o ruído fiscal.
… O JPMorgan estima que o próximo comunicado do Copom deve indicar que a porta está aberta para continuar aumentando a Selic até o 2Tri. O banco acredita que o balanço de riscos exige juro básico terminal acima de 15,25%.
… Analistas do JP avaliam que a perspectiva inflacionária para o ano piorou, devido à combinação de PIB acima do potencial, choque no preço dos alimentos, efeitos de repasse cambial de 2024 e impactos de indexação nos preços.
… Em tom menos pessimista, um estudo publicado pela Oxford Economics aponta que, apesar dos temores do mercado financeiro e da recente depreciação do real, o Brasil não entrou num quadro de dominância fiscal.
… Diante da Selic atrativa e de Trump 2, que não tem confirmado sua fama de mau, operadores no Broadcast identificam desmontagem de posição comprada no câmbio futuro por estrangeiros e investidores institucionais.
… Desde novembro, o dólar não atingia um patamar tão baixo de fechamento como o de ontem, a R$ 5,946, em queda firme de 1,40%. Para o economista-chefe do Itaú BBA, Mario Mesquita, o valor justo seria R$ 5,70.
… Ele disse ao Valor que não viu até agora nenhuma manifestação de Galípolo de se desviar das regras do jogo do regime de metas. “A diretoria atual vai continuar perseguindo a meta e isso demanda aperto de juros mais intenso.”
… De um lado, a curva do DI tentou ontem devolver prêmio junto com o alívio no câmbio, mas as taxas mais curtas e médias tiveram menor margem para cair e acabaram fechando perto da estabilidade, porque a Selic ainda vai longe.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,920% (de 14,925% no fechamento anterior); Jan/27, 15,165% (de 15,155%); Jan/29, 14,995% (de 15,020%); Jan/31, 14,960% (de 15,000%); e Jan/33, 14,880% (14,940%).
EFEITO REVERSO – Ao invés de faturar o alívio com o dólar abaixo de R$ 6, o Ibovespa caiu de leve, tendo as forças roubadas pelas empresas exportadoras, que justamente enfrentam perdas quando o real testa uma recuperação.
… Boa parte da produção da Vale é vendida no mercado internacional, o que ajudou a justificar ontem o desempenho bastante negativo do papel (ON, -2,52%, a R$ 52,66), figurando entre as piores perdas do dia.
… Em menor medida, também a queda do minério de ferro (-0,44%) influenciou. Ainda entre as companhias exportadoras, CSN Mineração perdeu 1,33% (R$ 5,19), Suzano caiu 1,60% (R$ 61,40) e Embraer, -2,10% (R$ 61,15).
… Descolado do exterior, o Ibovespa quebrou a sequência de quatro altas consecutivas e caiu 0,30%, abaixo dos 123 mil pontos (122.971,77). O volume financeiro continuou baixo e somou só R$ 19,2 bilhões.
… Em linha com o petróleo, Petrobras ON recuou 1,01% (R$ 41,13), na mínima, e PN caiu 0,56% (R$ 37,09).
… O Brent/março cedeu 0,36%, a US$ 79,00/barril, a 5ª queda seguida, ainda sob o efeito das medidas de Trump para o setor de energia, que podem elevar a oferta.
… Em meio ao recuo do dólar e da cotação do petróleo, a defasagem de preços da Petrobras diminuiu, segundo a Abicom. A do diesel recuou de 28% no pico da semana passada para 24% e a da gasolina, de 13% para 12%.
… Mas não se sabe se isso fará diferença para um potencial reajuste dos combustíveis, que pode ser discutido semana que vem. Ontem, Rui Costa reiterou que a estatal tem autonomia para decidir sobre os preços.
… Bancos fecharam sem direção única. Banco do Brasil subiu 1,83% (R$ 26,13) e Santander ganhou 1,28% (R$ 25,36). Bradesco PN perdeu 1,37% (R$ 11,48), Bradesco ON caiu 1,12% (R$ R$ 10,63) e Itaú desvalorizou 0,37% (R$ 32,61).
… Azul foi a maior alta do pregão, com +6,98% (R$ 4,60), após o anúncio da empresa sobre o encerramento e o resultado das ofertas para troca de notas existentes.
… CVC subiu 6,36% (R$ 1,84) e LWSA ganhou 5,66% (R$ 3,36). No lado negativo, os destaques ficaram com RD Saúde (-4,52%; R$ 20,91), Brava Energia (-4,13%; R$ 23,70) e Minerva (-3,42%; R$ 4,80).
BRILHO TECH – O anúncio do projeto Stargate, de infraestrutura de IA, que envolve investimento de US$ 500 bi, animou Wall Street, que voltou os olhos novamente para as ações de tecnologia.
… Embora a iniciativa anunciada por Trump tenha ganhado críticas de Musk, que disse que as empresas “não têm dinheiro de verdade” para o projeto, o mercado gostou.
… O Nasdaq puxou as altas, subindo 1,28% e reconquistando os 20 mil pontos (20.009,34). Oracle (+6,75%) e SoftBank (+11,37%), envolvidos na iniciativa, foram bem. Entre as big techs, Nvidia (+4,43%) se destacou.
… Netflix também embalou NY. Com mais de 300 milhões de assinantes no mundo no 4tri24, a ação disparou 9,69%.
… O rali nas techs com o otimismo da IA e os balanços levaram o S&P 500 a um novo recorde (6.100 pontos) durante a sessão. O índice fechou perto disso, a 6.086,27 pontos (+0,61%). O Dow Jones subiu 0,30%, a 44.156,73 pontos.
… Mas à CNBC, o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, disse haver sinais de que o mercado de ações está superaquecido. “Os preços dos ativos estão meio inflacionados. Você precisa de resultados muito bons para justificar esses preços”.
… Depois de o S&P 500 subir 24% em 2023 e 23% em 2024, há todo um debate sobre até que ponto o mercado pode ir sem uma correção significativa. Ainda mais porque os ganhos têm se concentrado nas techs.
… Ontem, por exemplo, apenas dois dos 11 setores do índice tiveram alta.
… Em nota, estrategistas do BlackRock Investment Institute disseram que “mesmo com juros mais altos, achamos que as ações podem continuar subindo, desde que os fundamentos permaneçam fortes.”
… Depois de uma sequência de quedas, os rendimentos dos Treasuries se ajustaram em alta. O da note de 2 anos subiu a 4,295% (de 4,274% na sessão anterior) e note de 10 anos avançou a 4,602% (de 4,578%).
… O índice dólar (DXY) mostrou oscilação contida pela segunda sessão seguida, com alta de 0,10%, a 108,167 pontos.
… O euro ficou estável (-0,03%), em US$ 1,0417, e a libra esterlina seguiu o mesmo caminho (-0,09%), a US$ 1,2321. O iene caiu 0,62%, a 156,448/US$.
EM TEMPO… USIMINAS captou US$ 500 milhões em bonds em oferta com demanda superior a US$ 2 bilhões, com taxa de 7,75% e prazo de sete anos, segundo agências de notícias.
LOJAS RENNER. Citi cortou preço-alvo de R$ 18,50 para R$ 17, mantendo recomendação de compra. Na prévia do 4Tri24, estimativa para crescimento de vendas nas mesmas lojas caiu de 12,9% para 10%, segundo o banco.
ALPARGATAS fará o resgate facultativo total das debêntures da 1ª série da 2ª emissão, tendo desembolso total de R$ 566 milhões. Serão resgatadas 550 mil debêntures e o pagamento ocorrerá no dia 30 de janeiro.
XP aprovou 1ª emissão de notas comerciais no valor de R$ 1,1 bilhão. Prazo será de 365 dias após a emissão.
TENDA. Itaú Unibanco reduziu participação acionária na empresa a 4,12%. No último formulário de referência, de 10 de janeiro, a participação do banco era de 7,82% dos papéis ordinários.
TECNISA. Vendas contratadas líquidas caíram 29,5% no 4Tri24, a R$ 138 mi, na comparação com o 4tri23. Valor integral das vendas foi de R$ 232 mi, alta de 3,3% no período. A companhia não realizou lançamentos no 4Tri24.
COSAN fará o resgate antecipado facultativo total da 1ª série da 3ª emissão de debêntures no dia 6 de fevereiro.
AUTOMOB informou que José Cezario Menezes de Barros Sobrinho renunciou ao cargo de diretor de RI. Para ocupar a função, a companhia elegeu Antonio da Silva Barreto Junior.
CCR ROTA SOROCABANA fará a 1ª emissão de debêntures, no valor de R$ 2,05 bilhões. Prazo de vencimento será de 60 dias contados da data de emissão.
PARANAPANEMA destituiu João Nogueira Batista dos cargos de diretor-presidente e de RI. Marcelo Vaz Bonini, atual diretor financeiro, acumulará o cargo de RI e o comando da empresa até a eleição de um novo diretor-presidente.
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