Morning Call

Semana tem BCE, BOJ, PIB, inflação e balanços nos EUA

Atualizado 21/01/2024 às 23:55:28

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[22/01/24]

… Resistente a novos estímulos, o BC da China manteve o juro ontem à noite. Esta semana, fica a expectativa pelas decisões de política monetária do BCE (5ªF) e do BoJ (à meia-noite desta 3ªF). A expectativa é de que as taxas negativas no Japão sejam revertidas em algum momento do 2Tri. Na zona do euro, o juro deve começar a cair só a partir de junho. Nos EUA, em meio à virada das apostas de corte para maio, os Fed boys já estão em período de silêncio, mas a agenda dos indicadores é importante, com o PIB/4Tri (5ªF) e a inflação do PCE em dezembro (5ªF), além dos balanços de Netflix (3ªF) e Tesla (4ªF). Aqui, sai o IPCA-15 de janeiro (6ªF) e o mercado segue de olho na movimentação política para endereçar a desoneração. Haddad vai hoje ao Roda Viva (22h).

… A equipe econômica foi colocada em córner na 6ªF, quando Pacheco disse, em Davos, que a desoneração da folha de pagamento está mantida até 2027 e que existe um “compromisso político” para o governo retirar a MP.

… Segundo ele, que esteve reunido com Haddad semana passada, o tema tem de ser tratada por projeto de lei. Pressionado, Haddad disse que tentou falar com Pacheco depois do comentário em Davos, sem sucesso.

… O ministro da Fazenda disse que Lula ainda quer conversar com o presidente do Senado para definir uma saída para o impasse. O governo tenta ganhar tempo e ainda não desistiu de reonerar a folha de pagamento.

… Apesar de taxativa, a declaração de Pacheco em Davos parece fazer parte do jogo e da estratégia de articulação, com desfecho ainda a ser definido pelas negociações, que podem ser arrastar até a volta do recesso.

… Uma das opções cogitadas nos bastidores de Brasília, caso o governo seja derrotado pelo Congresso e obrigado a abrir mão da MP, seria propor um projeto de lei alternativo para tratar da desoneração.

… Em paralelo, deve ser colocada na mesa a decisão de Lula de vetar o trecho da LDO que previa um calendário para o governo pagar as emendas impositivas. Essa pode ser uma moeda de troca importante nas negociações.

… A eventual derrubada da MP exigiria um contingenciamento maior de gastos pela Fazenda e pelo Planejamento em março, quando será divulgado o primeiro relatório bimestral de receitas e despesas do ano.

… Especialistas em contas públicas ouvidos pelo Estadão apontam que o bloqueio necessário gira em R$ 52 bilhões, mas o governo não tem a intenção de superar R$ 23 bi, que seria o teto permitido pelo novo arcabouço.

… A necessidade de contingenciamento maior elevaria a pressão da ala política pela mudança na meta fiscal. Mas a Fazenda tenta adiar ao máximo a desistência do déficit zero para não largar a âncora prematuramente.

… Um novo atrito do governo com o Legislativo pode ser aberto hoje pela expectativa de que Lula vete R$ 5 bi dos R$ 16,6 bi em emendas de comissão aprovados pelo Congresso na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024.

… O prazo para a sanção do Orçamento termina nesta 2ªF. A justificativa para o veto é que é preciso recompor políticas públicas que foram cortadas às vésperas da votação, justamente para turbinar emendas de comissão.

… A avaliação do Executivo é de que o Congresso incluiu um valor acima do que havia sido combinado. Já os  parlamentares contestam e alegam que houve um acordo com o governo na elaboração do texto final.

… Em outra frente fiscal, após encontro na última 6ªF com congressistas da bancada evangélica, Haddad disse que o governo criou um grupo de trabalho para discutir a isenção tributária sobre a remuneração de pastores.

… A norma, assinada às vésperas da eleição de Bolsonaro, em 2022, foi suspensa pela Receita na semana passada, seguindo recomendação do TCU, já que implicaria uma renúncia fiscal de quase R$ 300 milhões.

… Em meio ao espaço orçamentário limitado da União, a ministra Esther Dweck (Gestão e Inovação) considera “muito difícil” o governo melhorar a proposta de reajuste salarial apresentada aos servidores públicos federais.

… A categoria teve reajuste de 9% em 2022 e o governo propõe mais dois aumentos, de 4,5% cada (2025/2026).

MAIS AGENDA – Além do IPCA, a semana reserva as novas parciais da inflação do IPC-S (amanhã) e do IPC-Fipe (6ªF). O câmbio tem para conferir os dados das transações correntes e IDP de dezembro, que sairão na 5ªF.

… Economistas presentes à reunião trimestral do BC, na última 6ªF, avaliaram que mercado adotou “otimismo exagerado” com a dinâmica inflacionária, que passou a ser dosado após a pressão dos alimentos em dezembro.

… Eles citaram o efeito do El Niño sobre a alimentação como principal fator que pode limitar a desinflação em 2024 e apresentaram projeções de IPCA entre 3,5% e pouco acima de 4% este ano, fora da meta de 3%.

… No levantamento Focus (hoje, às 8h25), a estimativa está em 3,87%, confirmando a desancoragem.

… Para o PIB deste ano, economistas apontaram aos diretores do BC projeções fracas, em torno de 1%, bem abaixo da mediana do Focus, de 1,59%, e cogitaram a possibilidade de um ciclo mais longo de queda da Selic.

… O Broadcast apurou que as reuniões do BC com os economistas terão periodicidade mensal a partir de algum momento deste ano. Já os analistas continuarão participando dos encontros apenas uma vez a cada trimestre.

INDÚSTRIA – O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) se reúne hoje, às 11h, no Planalto, para aprovar a Nova Indústria Brasil, que prevê subsídios e subvenções, além da exigência de conteúdo nacional.

… Em entrevista ao Estadão, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, criticou o modelo a ser adotado. “É a velha roupagem da política industrial baseada em usar recursos, com pouca chance de funcionar.”

… Segundo ele, diante da exigência de conteúdo nacional, os bens industriais ficarão mais caros, reduzindo a competitividade do País. “Deveria ir no sentido contrário: abrir a economia à entrada de maquinário barato.”

B3 ABERTA – A bolsa funcionará normalmente no feriado do aniversário da cidade de São Paulo, na 5ªF.

LÁ FORA – Depois de o mercado em NY ter finalmente se dobrado à percepção de que o juro não vai cair em março, a agenda dos indicadores na semana ajuda a calibrar o tamanho do ciclo de desaperto do Fed.

… A aposta majoritária de cortes de juro nos EUA, que poucos dias atrás era de 175pb no ano, caiu a 125pb.

… A previsão para a primeira leitura do PIB/4Tri é de alta anualizada de 1,2%, bem abaixo do crescimento de 4,9% observado no trimestre anterior, o que deve manter o debate sobre o ritmo do pouso nos EUA.

… Às voltas com os alertas do Fed contra cantar vitória na inflação antecipadamente, sai o PCE/dezembro (6ªF).  

… Apesar de o investidor ter se convencido na última 6ªF de que o BC americano vai atrasar o início da flexibilização monetária, não houve espaço para frustração nas bolsas em Wall Street (leia mais abaixo).

… Os índices Dow Jones e o S&P 500 registraram recordes históricos na 6ªF, com as ações das gigantes de tecnologia brilhando, diante das boas notícias do setor e a onda de euforia com a inteligência artificial.

… O otimismo será testado esta semana pelos balanços da Netflix (3ªF), Tesla (4ªF), Intel (5ªF) e Visa (5ªF).

… Às vésperas da decisão do BCE, Lagarde participa de evento hoje (11h). Na 4ªF, sai o PMI composto de janeiro na zona do euro. Os BCs do Canadá (4ªF), África do Sul e Turquia (5ªF) também decidem juro esta semana.

CHINA HOJE – O BC manteve as principais taxas de juros inalteradas pelo quinto mês consecutivo. O movimento era esperado pelos analistas de mercado e acentua o sentimento de fragilidade, diante da crise imobiliária.

 … A chamada taxa de juros de referência para empréstimos (LPR) de 1 ano foi mantida em 3,45% e a de 5 anos permaneceu em 4,20%. A última alteração nos juros realizada pelo PBoC foi em agosto do ano passado.

LATER AND SLOWER – No dia em que NY jogou a toalha, adiando a expectativa do início de cortes de juros pelo Fed para maio, as bolsas fecharam em níveis recordes, no paradoxo sustentado pelo rali nas ações de tecnologia.

… O monitoramento do CME Group passou a mostrar, na 6ªF, 52,6% de chance de estabilidade nas taxas em março e 50,9% de corte em maio, além de indicar redução nas apostas para cortes até o fim do ano.

… Essa virada de chave ocorreu depois do salto na confiança do consumidor em janeiro e de Austan Goolsbee (Fed Chicago) dizer que não há ameaça iminente à economia que fará o Fed reduzir os juros agressivamente.

… Mary Daly (San Francisco) reforçou a mensagem de cautela: disse que ainda não vê estabilidade de preços, que é cedo para declarar vitória contra a inflação e que este não é momento para cortar juros apressadamente.

… O sentimento do consumidor americano deu um salto de 69,6 em dezembro para 78,8 pontos na leitura preliminar de janeiro, segundo a Universidade de Michigan. Foi bem acima dos 70,8 esperados pelo mercado.

… É um indicativo de que o consumo se mantém forte neste início de ano, beneficiando a tese de pouso suave.

… As expectativas de inflação para o período de 12 meses caíram de 3,1% a 2,9%. Nível abaixo de 3% não era visto no indicador desde dezembro de 2020. As expectativas para cinco anos também recuaram, de 2,9% a 2,8%.

… A perspectiva de que o pivô dovish do Fed fique só para maio não abalou as bolsas em NY, onde investidores pareceram convencidos que um pouso suave pode coexistir com um corte de juros menor.

… À Bloomberg, Jim Reid, do Deutsche Bank, disse que os cortes que estavam sendo contabilizados pelo mercado só fariam sentido se uma recessão estivesse no horizonte. “Este não parece ser o caso no momento”.

… Para a Fitch, a guinada dos BCs globais no sentido de reduzir juros em 2024 não será agressiva. As taxas, observou a agência, em relatório, ainda estarão bem acima dos níveis pré-pandemia no fim do ano.

… O setor de tecnologia, que é diretamente prejudicado pelos juros mais altos, não por coincidência foi justamente um dos mais beneficiados pela aposta de que o início do ciclo de desaperto fique para mais tarde.  

… Além disso, o setor, que já vinha embalado na semana pelo balanço da gigante TMSC, foi ajudado por declarações de Mark Zuckerberg sobre investimentos em IA na Meta (+1,95%).

… AMD (+7,11%), Nvidia (+4,17%), Qualcomm (+4,59%), Intel (+3,02%) e Apple (+1,55%) acompanharam.

… O Nasdaq subiu 1,7%, a 15.310,97 pontos, máxima do dia. S&P 500 (+1,23%, 4.839,81) e Dow Jones (+1,05%, 37.863,80) fecharam em níveis recordes. Na semana, ganharam 2,26%, 1,17% e 0,72%, respectivamente.

… Apesar da expectativa de que o juro nos EUA não caia tão cedo, o índice DXY recuou 0,24%, a 103,288 pontos.

… O euro subiu 0,18%, a US$ 1,0898, apesar de o PPI de dezembro na Alemanha ter registrado queda anualizada de 8,6%, pior do que o esperado (-7,9%). Na comparação mensal, recuou 1,2%, de expectativa de -0,4%.

… A libra fechou estável (-0,06%), a US$ 1,2701, a despeito de as vendas no varejo do Reino Unido terem despencado 3,2% em dezembro ante novembro, de uma previsão de -1,1%.

… Na comparação anual, as vendas no varejo britânico sofreram contração de 2,4% em dezembro, frustrando o consenso de alta de 1%. O iene subiu para 148,17/US$, na contagem regressiva para a reunião do BoJ.

… A reprecificação do início do ciclo de flexibilização pelo Fed ficou restrita aos Treasuries de curto prazo. O juro da note de 2 anos subiu a 4,389% (de 4,350% na véspera). Já o da note de 10 recuou a 4,137% (de 4,143%).

SEM BRILHO – A animação no exterior não contaminou o Ibovespa (+0,25%, a 127.635,65 pontos), que só à tarde virou para o azul, acompanhando de longe a alta dos seus pares nova-iorquinos. O giro foi de R$ 27,4 bi.

… Na semana, o índice à vista caiu 2,56%. O reposicionamento dos estrangeiros, que estariam tirando dinheiro da B3, em meio à reprecificação do ciclo do Fed, é apontado como um dos motivos da fraqueza do Ibov.

… O outro é a fraca perspectiva para a economia chinesa. Vale ON (-1,30%, a R$ 68,10), uma espécie de termômetro das relações comerciais Brasil-China, acumula queda de 12% desde o início do ano.

… Seja como for, como 6ªF foi dia de exercício de opções na bolsa, o que sempre amplia a volatilidade, não se deve descartar que parte da dificuldade do Ibov em acompanhar NY tenha sido associada ao jogo especulativo. 

… Além disso, o petróleo não ajudou. Com o Brent para março em queda de 0,68%, a US$ 78,56, Petrobras PN registrou desvalorização de 0,53%, a R$ 37,53, e ON fechou com leve viés negativo (-0,08%), a R$ 38,95.

… Entre os bancos, Bradesco operou no vermelho (ON, -0,93%, a R$ 13,85; e PN, -0,19%, a R$ 15,64). Já Itaú ganhou 0,24% (R$ 32,94), BB ON avançou 1,05% (R$ 55,92) e Santander unit teve elevação de 1,00% (R$ 30,21)

… As aéreas se destacaram no campo positivo, diante da notícia de que um pacote de medidas para beneficiar o setor está sendo preparado pelo governo, em conjunto com o BNDES.

… Gol (+6,02%, a R$ 7,04) liderou os ganhos do Ibov, seguida de perto por Azul (+3,88%, a R$ 13,11).

… No mercado de juros, as taxas domésticas seguiram o padrão dos rendimentos dos Treasuries, de alta no curto prazo e queda nos demais.

… No fechamento, o DI para Jan25 subiu a 10,100%, (de 10,088%). O DI Jan26 caiu a 9,745% (de 9,755%). O Jan27, a 9,880% (de 9,927%); o Jan29, a 10,300% (10,361%); Jan31, a 10,550% (10,615%); e Jan33, a 10,660% (10,733%).

… Na semana, as taxas dos DIs subiram entre 0,09 (DI26) e 0,17pp (DI33), com a questão fiscal no radar, diante do impasse nas negociações sobre a MP da reoneração da folha.

… No noticiário do dia, o IBC-Br registrou alta de apenas 0,1% de novembro sobre outubro. Embora tenha vindo acima do esperado (estabilidade), o índice reforçou a percepção de que a economia está em desaceleração.

… O fôlego fraco deixa espaço para o BC seguir cortando juro, mas não animou apostas de aceleração para -0,75pp.

… Após o IBC-Br, o mercado manteve a aposta de que também o PIB/4Tri virá zerado (pesquisa Broadcast).

… O dólar à vista ficou praticamente estável (-0,09%, a R$ 4,9268), após quatro pregões em alta. Na semana, subiu 1,4%, reflexo dos ajustes nas apostas para o Fed. A moeda para fevereiro ficou estável (+0,03%), em R$ 4,9385.

EM TEMPO… O advogado Efrain Pereira da Cruz renunciou ao cargo no conselho de administração da PETROBRAS. O MME indicou formalmente, no sábado, Renato Campos Galuppo para preencher a vaga…

… Galuppo teve a indicação para a Petrobras rejeitada em março do ano passado, em razão de sua vinculação com o partido político Cidadania. Auxiliares de Lula, porém, não acreditam em nova negativa, segundo o Broadcast

… A pretensão do governo é que Galuppo não fique no cargo apenas em um mandato “tampão”, mas permaneça no conselho após a assembleia geral ordinária prevista para março e que vai renovar os integrantes do comitê.

AMBEV. XP tem recomendação de compra para ação da companhia, com preço-alvo de R$ 18,70…

… Empresa deve ter 4Tri bom, refletindo redução de custos em todas as linhas, juntamente com boa dinâmica de unidade de negócios cerveja Brasil, bebidas não alcoólicas e América Central e Caribe, disse a corretora.

ENERGISA marcou para dia 29 definição do preço de venda de ações em oferta subsequente (follow-on); operação pode movimentar R$ 2,5 bilhões, caso seja vendido o lote adicional, de acordo com prospecto enviado à CVM.

HAPVIDA declarou, em resposta a um questionamento da CVM, que “não possui qualquer política ou diretriz para o descumprimento sistemático ou ordenado de decisões judiciais”…

… Questionamento ocorreu após notícias de que a companhia estaria sendo investigada pelo Ministério Público por se negar a cumprir liminares judiciais favoráveis aos seus beneficiários.

SINQIA. CVM aceitou pedido de cancelamento do registro de companhia aberta da companhia.

ITAÚ comprou o prédio que abriga a sede do seu banco de investimento, o Itaú BBA, na av. Faria Lima, 3500 (SP), por R$ 1,458 bilhão, ou cerca de R$ 57 mil por m². (Brazil Journal)

SIDERÚRGICAS. Representantes da indústria devem ser chamados pelo governo esta semana para discutir as reivindicações do setor, que pressiona pelo aumento da taxação do aço importado (Broadcast).

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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