Morning Call

Semana tem foco em juros e fiscal

Atualizado 15/09/2024 às 23:55:56

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[16/09/24]

… Promete muita volatilidade e expectativa a semana dominada pela bateria de reuniões de política monetária do Fed e do Copom, na superquarta, do BoE inglês, na 5ªF, e do BoJ e do PboC chinês, que repercutirão nos mercados na 6ªF. Além disso, o investidor doméstico tem ainda para acompanhar a divulgação do novo relatório bimestral de receitas e despesas do governo federal, na 6ªF, em meio à polêmica de que Dino autorizou o governo a emitir créditos orçamentários fora do arcabouço para combater as queimadas. Quanto às decisões de juros, a única segurança é de que o BoE não vai mexer nas taxas. De resto, o Fed, o Copom e os BCs asiáticos reservam suspense.

… Em uma reviravolta de última hora, na 6ªF, foi colocada em xeque a precificação consolidada de que o BC dos EUA abra o ciclo com um corte de 25pb. Muita gente migrou para as apostas de redução mais agressiva (50pb).

… O estopim para a mudança de lado veio de um artigo no WSJ do jornalista Nick Timiraos, especializado na cobertura de assuntos relacionados ao Fed, revelando que os dirigentes estão indecisos sobre a dose do corte.

… Agora, o cenário se divide meio a meio. A chance de o juro cair 50pb logo de largada praticamente dobrou, de 28% para 50%, disputando neste momento em pé de igualdade com a estimativa de uma queda mais branda.

… Pela reportagem, parte do Fed tem medo de que a manutenção do juro em nível restritivo por tempo demais reduza a chance de um pouso suave e, neste sentido, o melhor seria não economizar no tamanho do corte.

… Também pesa o fato de que vários Fed boys já sinalizaram a intenção de realizar quedas em série do juro, ampliando as esperanças de que o BC americano já possa começar com um passo maior para encurtar o ciclo.

… Na ferramenta das apostas do CME, a chance de redução acumulada de 125 pb até dezembro voltou a ser a mais provável, elevando a expectativa pelo gráfico de pontos do Fed, que será chave para projetar as apostas.

… Na China, a frustração com novos dados atividade divulgados no fim de semana eleva a pressão por estímulos por parte de Pequim, que já na 6ªF renovou o compromisso de baixar juros e custos de empréstimos se preciso.

… A produção industrial chinesa teve alta anualizada de 4,5% em agosto, abaixo do esperado (4,6%). As vendas no varejo avançaram 2,1% na mesma base de comparação, decepcionando o consenso de 2,5%.

… No Japão, dirigentes do BoJ enxergam pouca necessidade de aumento do juro esta semana, segundo a Bloomberg. Mas como o BC japonês já causou uma surpresa hawkish antes, não dá para ter 100% de certeza.

COPOM TAMBÉM É DÚVIDA – Em pesquisa Broadcast, os economistas estão amplamente precificados (53 de 61 instituições) para a retomada gradual do ciclo de aperto (0,25pp). Mas o DI evolui para a ousadia (0,50pp).

… Independente da intensidade do aperto, o BC terá de admitir no comunicado que a estratégia de manter a Selic (10,5%) por um período prolongado não mais assegura a convergência da inflação no horizonte relevante.

… O Copom deve mencionar no documento de 4ªF que novos apertos monetários nas próximas reuniões são prováveis e que a magnitude dependerá da evolução dos principais indicadores para a perspectiva de inflação.

… A perspectiva de retomada do ciclo de alta da Selic ganha força desde julho, como reflexo do descolamento das expectativas de inflação da meta de 3%, do câmbio depreciado (perto de R$ 5,60) e da atividade aquecida.

… Na última 6ªF, o Ministério da Fazenda revisou para cima a projeção para o IPCA deste e do próximo ano.

… De acordo com a nova grade de parâmetros da Secretaria de Políticas Econômicos (SPE), a estimativa para a inflação em 2024 passou de 3,90% para 4,25%, mais próxima do teto da meta no ano (4,5%) e do Focus (4,3%).

… Para 2025, a projeção foi de 3,30% para 3,40%, mais longe do centro do alvo (3%), com tolerância de 1,5pp.

… Na visão de analistas, a leve revisão para o IPCA do ano que vem não chega a ser irrealista, mas pode estar subestimada, diante da atividade mais forte. A Fazenda subiu a projeção do PIB/24 de 2,5% para 3,2%.

… O consenso entre os economistas aponta para quatro altas consecutivas de 0,25pp na Selic até janeiro, quando a taxa deve atingir 11,50%. Mas tem gente prevendo até 12,00%, como é o caso do Deutsche Bank.

… A avaliação no mercado é que a retomada do ciclo de aperto responde aos fundamentos e, de quebra, significa ganho de credibilidade, neste momento de transição no BC, com Galípolo querendo provar autonomia.

ALERTA FISCAL – O ministro Flávio Dino (STF) autorizou neste domingo a abertura de crédito especial fora do arcabouço e da meta de déficit zero para o combate às queimadas causadas pela crise climática no país.

… A autorização dos gastos vale até o final do ano. “Pode-se dizer que as consequências negativas para a responsabilidade fiscal serão muito maiores devido à erosão das atividades produtivas nas áreas afetadas.”

… A decisão de Dino ocorre após a consultoria jurídica do Ministério do Planejamento alertá-lo para os riscos que a emissão dos créditos extras para os efeitos da seca representaria ao equilíbrio das contas da União.

… Na AGU, a investida de Dino foi elogiada e considerada “corajosa” pelo ministro-chefe, Jorge Messias.

… Em entrevista ao Estadão de domingo, o economista Marcos Lisboa (da Gibraltar Consulting) exibiu pessimismo sobre o rumo das contas públicas. “A criatividade na contabilidade está voltando com força.”

… O economista tem visto com preocupação as medidas que melhoram de forma artificial a política fiscal do governo federal e observa que cumprir a meta não faz diferença se a dívida doméstica continua em alta.

… Embora ele reconheça que o momento da economia “é bom”, como mostram os últimos indicadores do PIB, ele diz que os alertas de especialistas sobre as inconsistências do arcabouço fiscal têm se provado verdadeiros.

… Uma fonte nova de preocupação, afirma, são os chamados “truques fiscais” que voltaram a ser notícia.

… Um deles foi motivo de alerta do próprio BC, que se recusa a contabilizar como receita primária (computada no resultado da meta) a apropriação, por parte do Tesouro, de recursos esquecidos em bancos por correntistas.

… Este dinheiro é uma das compensações para a desoneração da folha de pagamentos neste ano.

… Na avaliação de Lisboa, as metas fiscais do novo arcabouço estão se mostrando pouco eficazes para controlar a dívida pública, porque excluem da conta vários tipos de despesas. “Cumprir a meta assim não diz muita coisa.”

… O mercado transfere agora toda a expectativa para o relatório bimestral de receitas e despesas na 6ªF. O Tesouro não descarta a apresentação no documento de medidas adicionais de receitas para zerar a meta de déficit fiscal.


… As fontes de receitas extraordinárias listadas pela equipe econômica para garantir o cumprimento da meta de déficit zero em 2024 têm gerado uma arrecadação muito menor do que a esperada pelo governo e pelo mercado.

… A quatro meses do fim do ano, as medidas com maior potencial arrecadatório, como a retomada do voto de qualidade do Carf e as transações tributárias, tiveram até agora desempenho bastante decepcionante.

CSLL/JCP – A Febraban pediu na 6ªF ao ministro Padilha que o governo Lula reveja o projeto encaminhado ao Congresso que prevê o aumento de tributos sobre o lucro das empresas e os rendimentos dos acionistas.

… Pelo texto, a alíquotas da CSLL para bancos subiria de 20% para 22% a partir do ano que vem, enquanto as seguradoras teriam aumento de 15% para 16%. Nas demais empresas, a elevação seria de 9% para 10%.

… O projeto também aumenta de 15% para 20% a alíquota de imposto na distribuição de juros sobre capital próprio (JCP). O governo espera obter arrecadação adicional de R$ 32,56 bi com as medidas entre 2025 e 2027.

MAIS AGENDA – Do lado da inflação, saem o IGP-10/set (amanhã) e prévias do IPC-S (hoje, 8h) e IPC-Fipe (3ªF).  

… Haddad participa hoje à noite (19h30), presencialmente, de evento organizado pelo jornal Valor. Lula deve se encontrar com a ministra Marina Silva para tratar de ações para a questão de emergência dos incêndios.

LÁ FORA – Antes da decisão de juro os EUA, na 4ªF, ainda saem dados de atividade nos EUA, embora o mandato duplo do Fed esteja mais focado no emprego. As vendas no varejo e produção industrial de agosto vêm amanhã.

… Hoje, às 9h30, tem a atividade industrial Empire State, que deve ficar em -5,5 em setembro, de -4,7 (agosto).

… Na zona do euro, a inflação ao consumidor de agosto sai na 4ªF. Lagarde participa de painel em Washington na 6ªF, após ter sinalizado que o BCE está aberto a cortes em outubro, mas dezembro é mais provável.

… Os BCS da Turquia e da África do Sul divulgam as decisão de política monetária na 5ªF.

ELEIÇÕES EUA – Cerca de dois meses após Trump ter sido alvo de atentado em comício na Pensilvânia, o FBI apura nova tentativa de assassinato, após tiros próximos a clube de golfe em que o candidato jogava, na Flórida.

… O republicano foi retirado às pressas, depois de os disparos terem sido ouvidos ao local. O ex-presidente não foi ferido e um suspeito fugiu em um carro, mas foi detido logo em seguida em um condado próximo.

… Divulgada no domingo, nova pesquisa da ABC News/Ipsos indicou que Kamala Harris manteve a vantagem de 52% sobre 46% do ex-presidente em intenção de votos após o debate entre os candidatos semana passada.

FÔLEGO NOVO – O aumento das apostas em um corte mais agressivo pelo Fed na 6ªF, após a matéria do WSJ, contratou queda nos DIs e no dólar e fez o Ibovespa resgatar o sinal positivo no ano, perdido no pregão anterior.

… O índice à vista fechou com alta de 0,64%, perto dos 135 mil pontos (134.881,95). Na semana, subiu 0,23%.

… Na contramão do minério (-1,96% em Cingapura), Vale subiu 0,67% (R$ 58,50) e acumulou alta de 3,21% na semana, que também foi decisiva para o ganho do Ibov no período.

… Petrobras, por outro lado, foi mal no dia, pressionada pela queda do petróleo e por declarações do presidente Lula, de que a estatal “não serve apenas para lucrar, mas para beneficiar a população brasileira”.

… As ações da petroleira chegaram a subir 1,8%, mas no fim da sessão o papel ON caiu 0,30% (R$ 40,37) e o ON recuou 0,46% (R$ 36,70).

… Bancos terminaram a sessão em leve alta: Bradesco ON (+0,07%; R$ 13,95), Itaú (+0,11%; R$ 37,01), Santander (+0,39%; R$ 30,77) e Banco do Brasil (+0,67%; R$ 28,42). Apenas Bradesco PN ficou estável, a R$ 15,55.

… Destaque do dia, Azul disparou 22,52%, a R$ 4,95, com a notícia de que a empresa estaria perto de chegar a um acordo para a reestruturação da dívida com os credores.

… CVC avançou 14,29% (R$ 2,08) e Braskem subiu 7,79% (R$ 19,38).

… No lado negativo, Assaí caiu 2,98% (R$ 8,80) e Carrefour perdeu 2,67% (R$ 9,11), depois de o BofA rebaixar as ações das duas empresas de compra para neutro, reduzindo também os seus preços-alvo.

… Seguindo o bom humor externo, o dólar à vista fechou em baixa de 0,91%, a R$ 5,5673. Na semana, a moeda recuou 0,41%.

… O aumento da demanda por risco também reduziu as taxas dos DIs, deixando em segundo plano as preocupações fiscais domésticas e a atividade resiliente, que pode desembocar em mais inflação.

… O IBC-Br mostrou que a economia brasileira encolheu 0,41% em julho ante junho, mas a retração foi menor que o 0,50% esperado. Na comparação com julho passado, o índice cresceu 5,35%, acima da mediana do mercado (4,50%).

… Para analistas, o dado foi mais um a confirmar a resiliência da economia no início do 3Tri e a expectativa de um PIB perto de 3% em 2024.

… Os agentes de mercado continuam a reestimar a Selic para cima. Em revisão de cenário na 6ªF, o Santander revisou a taxa básica de estabilidade (10,50%) para 11,50% ao fim do ciclo de alta, e o Deutsche Bank previu 12%.

… O DI para Jan/26 caiu a 11,785% (de 11,850%); o Jan/27, a 11,785% (de 11,836%); o Jan/29, a 11,885% (de 11,945%); o Jan/31, a 11,870% (de 11,944%); e o Jan/33, a 11,840% (de 11,916%).

GO BIG – Quando tudo parecia consolidar as expectativas em um corte de 25 pb esta semana, Wall Street voltou a viver a esperança de um Fed mais agressivo, num otimismo desencadeado pela matéria do WSJ.

… Um alerta do ex-Fed de NY William Dudley endossou o ajuste. De novo, ele disse haver argumentos “fortes” a favor de um corte de 50 bp.

… Dudley já havia defendido que o corte de juros fosse iniciado em julho. Em sua visão, há risco de haver uma recessão nos EUA.

… S&P 500 e Nasdaq, que vinham de dias positivos depois que CPI e PPI não ameaçaram a possibilidade de corte de juros pelo Fed, fecharam em alta pela quinta sessão, em sua melhor semana desde novembro passado.

… Na agenda do dia, outros dados positivos. O sentimento do consumidor americano medido pela Universidade de Michigan subiu para 69, acima do esperado (68,2).

… Na mesma pesquisa, a expectativa de inflação de um ano caiu de 2,8% para 2,7%, embora a de 5 anos tenha subido de 3,0% para 3,1%.

… O S&P 500 avançou 0,54%, aos 5.626,02 pontos. O Nasdaq ganhou 0,65% (17.683,98) e o Dow Jones subiu 0,72% (41.393,78 pontos). Na semana, os índices acumularam ganhos de respectivamente, 4,02% e 5,95% e 2,60%.

… O otimismo em torno de um Fed mais agressivo foi mais evidente no índice Russell 2000, de small caps, que disparou 2,5%.

… Empresas de pequena capitalização são mais sensíveis à política monetária, já que dependem mais de crédito.

… Os retornos dos Treasuries cederam. O da note de 2 anos caiu a 3,584% (de 3,641% no pregão anterior) e o da note de 10 anos recuou a 3,658% (de 3,674%). O juro do T-bond de 30 anos fechou a 3,985% (de 3,987%).

… A revisão das apostas para o Fed fez o dólar perder terreno ante seus pares, com destaque para o iene, que subiu 0,73%, a 140,812/US$, em meio à perspectiva de maior diferencial de juros entre EUA e Japão.

… Euro (+0,09%, a US$ 1,1079) e libra (+0,06%, a US$ 1,3126) tiveram desempenho mais tímido.

EM TEMPO… VALE informou no sábado, em comunicado ao mercado na CVM, que está conduzindo verificações adicionais na barragem Forquilha 3, na mina de Fábrica, em Ouro Preto (MG), após “trincas superficiais”…

… A barragem está em nível de emergência 3, o mais alto na escala de risco, e precisa ser monitorada de forma permanente. A Vale ressaltou que as condições de estabilidade da estrutura seguiam inalteradas.

AZUL informou neste domingo que ainda não há um acordo firmado com os arrendadores de aeronaves para a otimização de sua estrutura de capital…

… Em reunião com executivos da Azul na 6ªF, Haddad prometeu viabilizar em até dois meses o Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), instrumento de garantia para acesso de crédito com melhores condições. (Broadcast)

CVC informou que a GJP Fundo de Investimento em Ações, por meio de sua gestora Mar Capital Gestão de Recursos, passou a ser titular de 16,32% do capital social total.

BRASKEM. A S&P Global rebaixou a perspectiva dos ratings de crédito do emissor de estável para negativo, indicando que pode reduzir os ratings nos próximos 12 meses.

MARISA LOJAS apresentou prejuízo de R$ 102 milhões no 2Tri, cifra 60,8% pior quando comparada ao resultado negativo de R$ 63,4 milhões apurado no mesmo intervalo de 2023.

… O Ebitda ficou em R$ 5,9 milhões, queda de 87% na comparação anual. Já a receita líquida foi de R$ 320,5 milhões no período de abril a junho, recuo de 34% contra um ano antes.

MULTIPLAN anunciou o lançamento do Lake Eyre, segunda das oito fases do empreendimento residencial Golden Lake, o primeiro bairro privativo de Porto Alegre (RS), cominvestimento previsto deR$ 250 milhões.

TOK&STOK. O BB aprovou o plano de recuperação extrajudicial. Com a adesão do BB, o plano tem 100% de aprovação dos credores com direito a voto, segundo Lauro Jardim/Globo.

ENEVA comunicou aos debenturistas da segunda série da 11ª emissão de debêntures que fará o resgate total antecipado facultativo na próxima 6ªF.

SANTOS BRASIL informou que o crédito referente à redução de capital anunciada um mês atrás será pago no dia 7 de novembro.

ONCOCLÍNICAS pretende captar R$ 190 milhões com debêntures para reforçar caixa.

PLANOS DE SAÚDE. A Prevent Senior está vendendo sua operação no Rio de Janeiro por R$ 1 bilhão. Segundo apurou o Valor, houve conversas informais para sondar o interesse da Hapvida pelo negócio.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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