Morning Call

Trump recua em tarifas para techs

Atualizado 14/04/2025 às 00:09:15

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[14/04/25]

… A semana é mais curta com a Sexta-Feira Santa, que fecha os mercados também na Europa e nos EUA. Aqui, o investidor emenda com o feriado da 2ªF, 21 de abril. A agenda doméstica é esvaziada, com destaque apenas para a proposta do Orçamento de 2026, que será enviada ao Congresso nesta 3ªF. Lá fora, o BCE anuncia decisão sobre juros (5ªF) e a China divulga o PIB, amanhã à noite. Em NY, a 4ªF é o dia mais importante, com vendas no varejo e uma fala de Powell, que concentrará as atenções em meio às idas e vindas de Donald Trump sobre as tarifas. Em Wall Street, Goldman Sachs divulga balanço antes da abertura e, na Argentina, o peso enfrenta sua prova de fogo.

… No fim da tarde de 6ªF, o ministro da Economia argentino, Luís Caputo, anunciou o fim do limite para que as pessoas físicas comprem dólares pela cotação oficial, que flutuará dentro da banda que tem como piso 1.000 pesos e como teto 1.400 pesos por US$ 1.

… As empresas também poderão transferir dividendos para o exterior sem limites no exercício 2025 com o novo sistema cambial.

… A banda do dólar oficial será reajustada à taxa de 1% ao mês e o relaxamento nos estritos controles cambiais da Argentina, que datam de 2019, era uma exigência para o governo obter um novo empréstimo de US$ 20 bilhões do FMI.

… Na primeira reação, os investidores comemoraram a eliminação da maior parte dos controles como um grande passo para o país voltar aos mercados internacionais de dívida. O ETF Global X MSCI Argentina subiu mais de 5% no pós-mercado.

… Ao anunciar a remoção dos controles cambiais, Caputo insistiu que “não se tratava de uma desvalorização”, mas há um consenso entre os analistas de que haverá uma desvalorização do peso, que pode cair em direção à cotação da taxa do câmbio paralelo.

… Na 6ªF, essa taxa era de 1.375 pesos por dólar, em comparação com a taxa oficial de 1.097 pesos. Alguns especialistas esperam uma desvalorização inicial em torno de 20% a 25%, e já levantam questionamentos sobre um choque da inflação no 2Tri.

… Ao Valor, uma fonte do mercado disse que, “se o efeito dos anúncios for uma corrida à segurança do dólar, os créditos do FMI ficarão longe de serem suficientes”. O FMI desembolsa nesta 2ªF uma parcela inicial de US$ 12 bilhões à Argentina.

… Nos EUA, Trump promete (mais) novidades para hoje, após ter surpreendido na 6ªF à noite com a decisão de suspender as tarifas para smartphones, PCs, servidores e outros produtos de tecnologia, a maioria deles montados na China.

… Na verdade, nem foi o presidente quem fez o anúncio, e, sim, a Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos que divulgou uma lista de produtos isentos da última rodada de tarifas sobre as importações do país.

… Entre os favorecidos estão Apple, Nvidia, Dell e HP, entre outras big techs, que vinham pressionando a Casa Branca, e que agora não terão mais que pagar 145% para os produtos chineses, mas apenas a primeira taxa de 20% aplicados contra o fentanil.

… As exceções abrangem um valor de US$ 385 bilhões em importações de 2024 – ou 12% do total – e incluem US$ 100 bilhões da China, ou 23% das importações em 2024. Para esses eletrônicos, a alíquota média do imposto passou de 45% para 5%.

… A maior isenção global é a categoria que inclui PCs e servidores, com US$ 140 bilhões em importações em 2024, 26% da China. A maior categoria isenta de produtos chineses é a de smartphones, com US$ 41 bilhões em importações em 2024, 81% do total.

… O recuo de Trump com as techs bateu em Xi Jinping, que não perdeu a chance de faturar.

… “Esse é um pequeno passo dos Estados Unidos para corrigir sua ação equivocada de ‘tarifas recíprocas’ unilaterais”, disse o Ministério do Comércio da China em um comunicado publicado em sua conta oficial do WeChat no domingo.

… A nota continua, instando os EUA a “darem um grande passo para abolir completamente a ação errônea e retornar ao caminho correto de resolver as diferenças por meio do diálogo igualitário baseado no respeito mútuo”.

… Coube ao secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, dar as explicações, afirmando que as novas tarifas de smartphones e computadores são “temporárias” e que “esses produtos serão incluídos no setor de semicondutores, em um ou dois meses”.

… Sem dar mais detalhes, afirmou que um aviso será publicado no registro federal ainda esta semana.

… Já Trump saiu falando grosso em sua plataforma de mídia social, dizendo que “NINGUÉM está fora de risco”, que está analisando os semicondutores e “TODA A CADEIA DE SUPRIMENTOS DE ELETRÔNICOS e não seremos reféns de nações hostis como a China”.

… No sábado, ele já havia dito a repórteres no Air Force One que “vamos ser muito específicos na 2ªF”.

OS PREÇOS VÃO SUBIR – O recuo para a importações das techs não alivia a pressão de outros preços do varejo americano, que já estão alertando para uma torrente de aumentos e para a falta de produtos já neste mês, segundo reportagem do Financial Times.

… De acordo com o centro de pesquisa de políticas Budget Lab, da Yale University, algumas lojas se preparam para reajustar seus preços nas próximas duas semanas, diante das tarifas de até 145% para a China, que elevarão seus custos.

… A expectativa é de que esse movimento agravará a inflação persistente que já obrigou muitos consumidores a limitarem seus gastos.

… As primeiras mudanças devem ser sentidas nos corredores de hortifrutigranjeiros dos mercados. Os EUA importam 59% das frutas frescas e 35% dos vegetais que os americanos consomem, de acordo com o Departamento de Agricultura.

… Os varejistas ampliaram seus estoques de roupas e brinquedos e é possível que o consumidor só sinta algum impacto nas prateleiras desses produtos na volta às aulas, no outono. Mas se o consumidor antecipar as compras isso pode levar a aumentos mais rápidos.

EM WALL STREET – Ainda no Financial Times, as tarifas de Trump estão atingindo a confiança dos investidores no ativos americanos pela primeira vez, buscando ações em outros mercados e deixando de acreditar nos títulos do Tesouro e no dólar.

… “Eles estão perdendo o brilho do domínio hegemônico global de que desfrutam há décadas. A confiança desapareceu, ou pelo menos enfraqueceu significativamente, e é difícil imaginar o que poderá trazê-la de volta enquanto Trump estiver na Casa Branca.”

… Segundo a reportagem, o mercado de ações americano carrega risco político pela primeira vez. Os títulos da dívida dos EUA não agem mais como se fossem verdadeiramente isentos de risco. O dólar não está se comportando como um ímã durante períodos de estresse.

… O FT encerra com uma sombria conclusão: “Aconteça o que acontecer, os mercados americanos carregarão uma cicatriz duradoura”.

AGENDA – É bem fraca a pauta dos indicadores no Brasil, prevendo apenas o IGP-10 de abril amanhã (3ªF), além dos dados semanais do fluxo cambial (4ªF) e, hoje, a pesquisa Focus hoje (8h25) e os números semanais da balança comercial (15h).

… Os diretores do BC Diogo Guillen e Nilton David têm reunião trimestral com economistas do mercado (9h30).

… Em Brasília, os feriados da Páscoa e de Tiradentes esvazia o Congresso, com os parlamentares em suas bases eleitorais. Na Câmara, as sessões plenárias serão virtuais, mas sem votações de impacto. No Senado, não haverá sessões de plenário.

… Está confirmado, no entanto, o encaminhamento ao Legislativo da proposta do governo para o Orçamento de 2026 amanhã (15), que deve prever o retorno do superávit primário no ano que vem, com uma meta de 0,25% (ante 0% deste ano).

… Também não há previsão de julgamentos em plenário no Supremo Tribunal Federal.

… O presidente Lula viaja hoje para o Rio de Janeiro, onde participa da inauguração do novo Campus da Universidade Federal Fluminense, em Campos dos Goytacazes. Amanhã estará em Paracambi e em Rezende (RJ), para uma agenda com a montadora Nissan.

LÁ FORA – A reunião do BCE (5ªF) ocorre em meio a um cenário de grandes incertezas com a política tarifária de Trump. Em meio à tensão comercial, diversos dirigentes da instituição mostraram sinais divergentes em seus pronunciamentos públicos.

… Parte deles defende uma nova queda dos juros, enquanto outros são favoráveis a uma pausa no ciclo de flexibilização monetária.

… Nos EUA, os investidores esperam a fala de Powell (4ªF), como uma oportunidade para ajustarem suas apostas aos juros americanos. O mercado está sendo avisado que não há pressa e o mais apropriado é esperar até que o cenário das tarifas fique mais claro.

… Além de Powell, vários Fed boys têm falas previstas nesta semana, a começar de quatro dirigentes hoje: Tom Barkin/Richmond (13h), Christopher Waller (14h), Patrick Harker/Philadelphia (19h) e Raphael Bostic/Atlanta (20h40).

… Entre os indicadores, os destaques são os dados da atividade econômica, sobretudo as vendas no varejo de março (4ªF), uma vez que a confiança e o sentimento do consumidor americano têm renovado mínimas. No mesmo dia, sai a produção industrial nos EUA.

… Na China (3ªF à noite), os dados de atividade de março, com a produção industrial e as vendas no varejo, além do PIB do 1Tri deste ano serão acompanhados com muita expectativa, diante da piora nas perspectivas de crescimento com o início da guerra comercial.

… Ainda hoje (8h), sai o relatório mensal da Opep e as expectativas de inflação ao consumidor do Fed/NY de março (12h).

EUA VS IRÃ – Os dois países concordaram em prosseguir as negociações sobre o programa nuclear de Teerã, após a primeira reunião de alto nível sobre o tema em muitos anos, ocorrida no sábado, sob mediação do governo de Omã.

… Segundo escreveu no X o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, que liderou a delegação iraniana, as partes concordaram em se reunir novamente esta semana. Os Estados Unidos foram representados por Steve Witkoff, negociador preferido de Trump.

OLHO POR OLHO – As bolsas em Wall Street viveram uma gangorra na 6ªF até o início da tarde, quando sinais de que Donald Trump voltaria atrás com a China em algum grau – o que foi confirmado horas depois – animaram os investidores.

…Pela manhã, Xi Jinping tinha anunciado tarifas de 125% sobre produtos dos EUA em retaliação aos 145% do presidente americano.

… Segundo a Casa Branca, Trump estaria “otimista” com a possibilidade de a China buscar um acordo com os EUA.

… Quando saiu a entrevista de Susan Collins (Fed/Boston) ao Financial Times, dizendo que o BC dos Estados Unidos estaria “preparado para estabilizar o mercado”, se necessário, as ações firmaram alta de vez.

… Se as condições se tornarem desordenadas, o Fed “estará absolutamente preparado” para ajudar a estabilizar os mercados financeiros, disse Collins. Por enquanto, observou que os mercados continuam funcionando bem, sem preocupações gerais com liquidez.

… O Nasdaq liderou os ganhos, com +2,06% (16.724,46). O S&P 500 subiu 1,81% (5,363,36) e o Dow Jones avançou 1,56% (40.212,71). Na semana, o Dow Jones subiu 4,95%, o S&P 500 ganhou 5,7% e o Nasdaq avançou 7,29%.

… Collins trouxe uma mensagem de tranquilidade, mas alertou sobre o risco de desaceleração econômica e inflação com as tarifas.

… Por isso, a cautela fez os yields dos Treasuries, no centro da preocupação sobre a atratividade e a segurança dos ativos americanos, fecharem em alta. O da note de 2 anos foi a 3,975% (de 3,883%) e o retorno do título de 30 anos subiu a 4,870% (4,864%).

… Na semana, o rendimento da note de 10 anos, que chegou a ficar acima de 4,5% na sessão, teve a maior alta em duas décadas, com a liquidação dos papéis que se mostra incessante. Na 6ªF, o juro de 10 anos fechou em 4,484% (de 4,436%).

… “Os mercados continuam carregados de preocupação”, disse Mark Hackett, da Nationwide. “Ainda se busca estabilidade em meio às tensões comerciais e incertezas quanto aos lucros das empresas. Os ganhos nas ações não são um ponto de virada”, afirmou.

… Quanto aos lucros do 1Tri, BlackRock, JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley apresentaram bons balanços, com resultados acima do esperado, mas variações de “incertezas”, “desconhecidos” e “turbulência” surgiram em seus comunicados.

… Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, disse esperar “uma confusão” nos títulos do Tesouro que leve a uma intervenção do Fed.

… Outro dirigente do Federal Reserve a falar no dia, Neel Kashkari (de Minneapolis), lembrou que, se os Estados Unidos não fizerem novos acordos comerciais, “vai levar tempo para o mercado financeiro e a inflação se acalmarem”.

… As tarifas já estão mexendo com os ânimos dos consumidores americanos, conforme mostrou a pesquisa da Universidade de Michigan. A preliminar de abril confirmou que a expectativa de inflação para o longo prazo disparou de 5,0% para 6,7%, maior nível desde 1981.

… Para o curto prazo, a expectativa de inflação também subiu, de 4,1% para 4,4%.

… A confiança do consumidor levou um tombo, de 57 em março, para 50,8 em abril, abaixo dos 54,6 esperados. “Os números mostrados por Michigan acendem mais sinais de alerta sobre os gastos do consumidor nas próximas semanas”, disse Carl B. Weinberg (HFE).

… Assim como o mercado de Treasuries, o câmbio não embarcou na animação que tomou conta das bolsas na 6ªF. O dólar continuou caindo em escala global, contra pares e emergentes, diante do temor de recessão provocado pela política tarifária de Trump.

… O índice DXY recuou 0,99%, a 99,871 pontos, com o euro em forte alta de 1,36%, a US$ 1,1348 e a libra esterlina avançando 0,80%, para US$ 1,3074. O iene japonês subiu 0,69%, a 143,525/US$. Contra o real, o dólar caiu 0,47%, a R$ 5,8708.

… Por aqui, os juros foram na contramão dos Treasuries com a ajuda do câmbio apreciado e do IPCA de março (+0,56%), quase em linha com o esperado (+0,54%), depois de um resultado muito forte em fevereiro (+1,31%).

… Por outro lado, o IBC-Br desacelerou de 0,92% em janeiro para 0,40% em fevereiro, mas bem acima do esperado (0,20%) mostrando que a atividade continuava robusta no início do ano.

… Apesar dos indicadores de atividade, o movimento de revisões para baixo na Selic continua. Na 6ªF foi a vez de o JPMorgan dizer que espera apenas mais um aumento de 50pb na taxa básica de juros, para 14,75%.

… O banco espera que a Selic feche 2025 em 13,75%, contra 15,25% antes. Para o fim de 2026, cortou a taxa de 12,50% para 9,75%. As projeções do IPCA foram mantidas em 5,5% e 3,2% em 2025 e 2026, quando a desaceleração da economia deve ficar mais evidente.

… O DI para janeiro de 2026 caiu a 14,725% (de 14,805% na véspera); o Jan/27 cedeu a 14,310% (de 14,520%); o Jan/29, a 14,225% (de 14,470%); o Jan/31, a 14,500% (de 14,790%); e o Jan/33, a 14,590% (de 14,900%).

 … Como NY, o Ibovespa, teve um dia volátil, com o índice fechando em alta de 1,05%, aos 127.683,40 pontos, puxado por suas blue chips de commodities. Vale registrou +1,67% (R$ 53,66), seguindo a alta do minério de ferro em Dalian (+0,71%).

… Petrobras ON, +1,98% (R$ 33,92) e PN, +1,99% (R$ 31,85), acompanharam o Brent/jun (+2,26%), que subiu a US$ 64,76, na ICE.

… Bancos também avançaram: Bradesco PN (+1,37%; R$ 12,62), Santander (+1,02%; R$ 26,62), Banco do Brasil (+0,87%; R$ 27,80), Bradesco ON (+0,81%; R$ 11,18) e Itaú Unibanco (+0,51%; R$ 31,81).

… Vamos liderou as altas, com +12,73% (R$ 4,87), seguida por SLC Agrícola, 6,01% (R$ 20,12). Na outra ponta, IRB (-6,65%; R$ 44,63); Natura, com -1,16% (R$ 9,37), e CPFL Energia, com -1,15% (R$ 37,71), tiveram as maiores perdas.

EM TEMPO… Conselho de Administração da PETROBRAS elegeu Ricardo Wagner de Araujo para o cargo de Diretor Executivo de Governança e Conformidade (DGC).

TELEFÔNICA informou a alteração sobre o valor de JCP a ser pago por ação anunciado pela companhia em 1º de abril; o recálculo se deve ao programa de recompra de papéis realizado pela empresa…

… Valor líquido recalculado é de R$ 0,1259 por ação ON; inicialmente, valor informado era de R$ 0,1258 por papel.

EZTEC. Lançamentos cresceram 32% no 1TRI, na comparação anual, para R$ 616 milhões.

CARREFOUR. Venda bruta consolidada cresceu 3,6% no 1Tri25, a R$ 28,8 bilhões, sobre 1Tri24. Vendas mesmas lojas subiram 6,9% no Atacadão, e 2,6% nas unidades de varejo…

… No Sam’s Club, as vendas mesmas lojas caíram 3,8%, segundo a prévia operacional divulgada ontem.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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