Morning Call
Wall Street cansou de Trump

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[24/04/25]
… Com a agenda de indicadores mais fraca, prevalece o calendário de balanços nesta 5ªF, com Alphabet em NY e Vale na B3, as duas após o fechamento. Antes da abertura, sai Usiminas. No after hours, a IBM levou um tombo de quase 7%, apesar de o lucro e a receita terem superado as estimativas, enquanto a Whirlpool subiu 3,80% depois de reverter prejuízo de um ano antes. As reuniões do FMI continuam rendendo entrevistas e pronunciamentos, nos quais as incertezas sobre as tarifas dos EUA são temas recorrentes. Em Wall Street, os mercados reagiram com alívio a mais um recuo de Trump, mas sem entusiasmo. Investidores estão cansados dos tuítes do presidente dos EUA e da imprevisibilidade. A notícia de redução de tarifas para a China, publicada pelo WSJ, não foi confirmada pela Casa Branca.
… Depois de subir mais de 3% durante o dia, os índices de ações tinham uma alta mais modesta no fechamento, já que parte dos ganhos foram apagados quando o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que não haveria uma proposta unilateral aos chineses.
… No final da tarde, Trump assinou ordens executivas para impulsionar o uso de IA na educação e no treinamento de força de trabalho, e disse que já conversou com 90 países que querem negociar tarifas. Onze grandes fabricantes de carros estariam voltando aos EUA.
… Sobre retirar as tarifas de 145% para a China, disse que “vai depender deles”, acrescentando que, “talvez, em três ou quatro semanas, tenhamos as tarifas acertadas”. Ao mesmo tempo, Trump disse que a tarifa de 25% sobre carros do Canadá pode subir mais.
… Nos pregões desta 4ªF, as ações da GM, da Ford e da Stellantis subiram com a notícia de que o governo estaria considerando reduzir as tarifas sobre peças automotivas antes do prazo final de 3 de maio, segundo informação do Financial Times.
… A proposta isentaria peças automotivas das tarifas de 20% que Trump impôs sobre importações da China para interromper a produção de fentanil. A Casa Branca não quis comentar e o mercado fica sem saber se isso vai ou não acontecer.
… Título de uma análise na Bloomberg resume o sentimento dos investidores: “Estão exaustos com o vaivém de Trump”.
… “Todo dia é só incerteza, incerteza, incerteza. Esperamos que uma coisa aconteça e depois acontece outra”, disse o estrategista-chefe global da Freedom Capital Markets, Jay Woods, comentando que a imprevisibilidade vem confundindo e é muito frustrante.
… “Todas as oscilações, as altas repentinas e as quedas de dar dor de cabeça, estão sendo impulsionadas por políticas da Casa Branca que mudam constantemente sem nenhum aviso prévio, tornando quase impossível prever para onde vão as ações, os títulos e o dólar.”
… Os veteranos de Wall Street estão acostumados a se adaptar rapidamente a mudanças de cenários, mas desta vez é Trump que sozinho impulsiona um tipo de reviravolta que só se viu em episódios como no estouro da bolha imobiliária ou na pandemia da Covid.
… “Os mercados estão negociando intensamente com base em políticas”, disse Marko Papic, estrategista-chefe da BCA Research, dizendo que essa é apenas “uma maneira elegante de dizer que os investidores estão negociando com base em tuítes”.
… Em um dia, Trump ameaça demitir Powell e no outro diz que nunca pensou nisso. Num dia, define uma tarifa de 145% para a China e no outro diz que a taxa “não chegará nem perto disso”. Ele pode mudar de ideia a cada dia, de uma hora para outra.
… Essa instabilidade minou a confiança na economia americana, ameaça a força do dólar e o financiamento da dívida dos Estados Unidos, com as sucessivas ondas de liquidação dos Treasuries e das ações, criando uma expectativa generalizada de crise.
… Nesta 4ªF, Keith Lerner, codiretor de investimentos da Truist Advisory Services demonstrava desânimo: “A recuperação é um alívio, mas tudo o que fizemos hoje foi voltar ao ponto em que estávamos antes que as notícias sobre Powell derrubassem o mercado.”
UM NOVO PLANO PARA A CHINA – O recuo de Trump sobre Powell e o aceno de um “bom acordo” com a China ocorreram na sequência de um encontro com grandes executivos do varejo americano, incluindo Walmart, Home Depot e Target.
… Na conversa, o presidente foi alertado que os impostos de importação poderiam interromper as cadeias de suprimentos e aumentar os preços dos produtos, e que, em poucas semanas, as prateleiras nas lojas podem estar vazias.
… Foi nesse contexto que o Wall Street Journal apurou que o governo americano considera reduzir as tarifas sobre importações chinesas.
… Na média, as taxas ficariam entre 50% e 65%, sendo que poderiam ser ainda mais baixa, de 35%, sobre itens não considerados críticos para a segurança nacional. Para produtos críticos, a tarifa seria de 100%.
… Segundo o jornal, o novo plano para a China teria uma implementação gradual ao longo de cinco anos.
… Questionada por um repórter sobre uma redução das tarifas chinesas, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que elas foram uma alavanca para trazer a China à mesa de negociações. Sobre o silêncio de Pequim, ela respondeu: “Tenham paciência e verão”.
… Ao que parece, Trump ainda está esperando um telefonema de Xi.
… Em Pequim, todos apoiam firmemente a retaliação do governo chinês contra as altas tarifas dos EUA, diz a Bloomberg Economics, o que contrasta com a guerra comercial de 2018-2019, quando parte da população defendia uma conciliação.
… Para Alicia Garcia Herrero, economista-chefe para a Ásia-Pacífico da Natixis, “Trump está em pânico com a queda do dólar e das ações e a alta dos rendimentos dos Treasuries. Ele precisa de um acordo rápido. A China não precisa oferecer nada de grande”.
O LIVRO BEGE – A incerteza sobre o uso de tarifas pelo presidente Trump sobre parceiros comerciais dos EUA aumentou em todo o país nas últimas semanas, de acordo com o Livro Bege do Fed, divulgado nesta 4ªF.
… Menções a tarifas apareceram 107 vezes no relatório e variações da palavra “incerteza” apareceram 89 vezes.
… O Livro Bege coletou informações até 14 de abril, com comentários e relatos sobre as condições de negócios em cada um dos distritos regionais do Federal Reserve, que servirão de base para a reunião de política monetária do dia 7 de maio.
… Os preços aumentaram em todos os distritos, com empresas prevendo custos de insumos mais altos em função das tarifas, sendo que muitas receberam notificações de seus fornecedores de alta e a maioria citou planos de repassar aos consumidores.
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… O emprego permaneceu praticamente inalterado, mas “vários distritos relataram que as empresas estavam adotando uma abordagem de esperar para ver em relação ao emprego, desacelerando as contratações até mais clareza das condições econômicas”.
ESTADOS PROCESSAM –Uma dúzia de estados dos EUA já contestam as tarifas globais “imensas e em constante mudança”, alegando que Trump contornou ilegalmente o Congresso ao emitir taxas sob uma lei econômica de emergência.
… O processo aberto, nesta 4ªF, no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, Manhattan, afirma na denúncia que a política comercial “agora depende dos caprichos do presidente, e não do exercício saudável de sua autoridade legal”.
… Trump “alterou a ordem constitucional e trouxe caos à economia americana”, disse o grupo, que inclui NY, Illinois e Arizona, e segue os processos movidos pela Califórnia, com alegações semelhantes e que buscam uma ordem judicial para suspender as tarifas.
BALANÇOS – Sem uma noção clara de onde as políticas se estabelecerão, os analistas de Wall Street não conseguiram prever qual será o impacto nos lucros corporativos, em meio à expectativa de desaceleração da economia e de choque inflacionário.
… No after hours, a derrocada (-6,86%) das ações da IBM assustou e surpreendeu, porque a gigante da tecnologia registrou resultados trimestrais positivos e ainda traçou guidance otimista para este 2Tri.
… A empresa informou que obteve um lucro ajustado de US$ 1,60 por ação, acima do esperado (US$ 1,42 por papel) pelos analistas. A receita líquida subiu 1%, para US$ 14,54 bilhões, superando previsão de US$ 14,39 bilhões.
… A IBM espera receita de US$ 16,4 bi e US$ 16,75 bi no 2Tri, melhor do que a aposta do mercado (US$ 16,3 bi).
… Whirlpool disparou quase 4% no after market, após reportar um lucro líquido de US$ 71 milhões no 1Tri, revertendo o prejuízo de US$ 259 milhões apurado um ano antes. A receita caiu 19,35%, para US$ 3,62 bilhões.
HOJE – Além da Alphabet, a Intel solta balanço hoje à noite, em meio a informes de que demitirá 20% de seu quadro.
… Na B3, tem Vale e Multiplan após o fechamento e Usiminas antes da abertura.
VALE – O balanço da mineradora deve mostrar impacto da queda dos preços do minério de ferro e pelotas no 1Tri, contribuindo para uma leve queda no resultado, segundo analistas estimaram ao Valor.
… Estimativas de cinco bancos (Itaú BBA, UBS BB, Goldman Sachs, Citi e BTG Pactual) apontam para o lucro líquido de US$ 1,65 bilhão no primeiro trimestre, o que, caso se confirme, significará uma queda de 1,78% frente aos três primeiros meses do ano passado.
… A receita líquida prevista é de US$ 7,63 bilhões e o Ebitda, de US$ 3,112 bilhões, que representam recuos de 9,69% e de 10,5%.
MAIS AGENDA – Em Washinton, Galípolo tem uma série de reuniões do G20, FMI e Banco Mundial, a partir das 7h; Diogo Guillen (BC) participa de evento da XP às 12h30 e Paulo Picchetti estará às 15h em evento do Itaú.
… Único indicador doméstico é a prévia do IPC-S (8h). A comitiva de Lula para o funeral do Papa Francisco embarca hoje à noite para Roma. Barroso (STF), Alcolumbre e Motta aceitaram o convite do presidente para irem juntos.
… Nos EUA, às 9h30, saem os pedidos de auxílio-desemprego e as encomendas de bens duráveis em março. As vendas de moradias usadas em março serão divulgadas às 11h. Neel Kashkari (Fed) participa de evento às 14h.
LOBO EM PELE DE CORDEIRO – Num primeiro momento, o mundo comprou ontem o alívio da promessa de Trump de não demitir Powell e ser “gentil” com a China. Mas não demorou para as desconfianças voltarem.
… As informações antecipadas pelo Tesouro e a Casa Branca de que o presidente americano não cogita oferecer na mesa de negociação uma redução unilateral das tarifas para o governo de Pequim reduziram parte do ânimo.
… Depois de terem emplacado um rali de mais de 3% durante o pregão, as bolsas em NY desaceleraram o fôlego até o fechamento: Dow Jones, +1,07% (39.606,62 pontos); S&P 500, +1,66% (5.375,83); e Nasdaq, +2,50% (16.708,05).
… Tesla (+5,34%) ignorou o balanço trimestral fraco e comemorou a declaração de Elon Musk de que, a partir do mês que vem, dedicará menos tempo a suas funções políticas para se concentrar na montadora de veículos elétricos.
… Intel disparou 5,43% com os relatos na imprensa de que reduzirá a sua força de trabalho em mais de 20%.
… O clima mais pacificado nos EUA acomodou a recente liquidação dos Treasuries, mas na segunda metade do pregão, as taxas se distanciaram das mínimas e o yield da Note-10 anos voltou para 4,387%, de 4,400% na véspera.
… O investidor ainda não parece encorajado a recobrar todo o interesse pelos ativos americanos, porque tem sido obrigado a matar um leão por dia com as aventuras de Trump colocando os mercados globais em perigo.
… Pela segunda vez em dois meses, o UBS reduziu a projeção para dólar. Segundo o banco, o impacto da guerra tarifária nos fluxos foi mais negativo que o esperado e a moeda dos EUA está se transformando em divisa pró-risco.
… O euro e o iene devem se fortalecer como ativos de segurança, segundo o UBS, que revisou em alta as estimativas para a moeda do bloco europeu (de US$ 1,12 para US$ 1,23) e do Japão (de 140/U$ para 130/US$) no final do ano.
… Ontem, porém, o dólar recuperou parcialmente o seu prestígio, na esperança de que Trump não jogue tão duro com os chineses e nem derrube Powell do comando do Fed. O índice DXY saltou 0,94%, para 99,849 pontos.
… O iene caiu para 143,40/US$, a libra perdeu 0,28%, a US$ 1,3264, e o euro recuou 0,45%, para fechar em US$ 1,1327. Dirigente do BCE, François Villeroy de Galhau recomendou novos cortes de juros ainda este ano.
… Segundo ele, o BCE europeu relaxará a política monetária este ano mais rapidamente do que o Fed.
… Powell tem desafiado as pressões de Trump para baixar os juros e priorizado a batalha contra a inflação.
… No auge ontem do entusiasmo com os relatos de que os EUA poderiam reduzir as tarifas de importação sobre a China de 145% para uma faixa entre 50% e 65%, o dólar chegou por aqui a cravar R$ 5,65 na mínima (R$ 5,6584).
… À medida, porém, que se percebeu que Trump não deve facilitar tanto, a moeda americana baixou a bola e reduziu a queda para só 0,16% no fechamento, cotada a R$ 5,7184. O recuo do petróleo também pesou para o real.
… Rumores de potencial aumento da produção da Opep+ em junho derrubaram o Brent (-1,95%, a US$ 66,12) e levaram junto os papéis da Petrobras: ON registrou queda de 0,73% (R$ 32,75) e PN caiu 1,13% (R$ 30,57).
… Na reta final do pregão, a informação oficial de que não haverá redução unilateral de tarifas para a China fez com que o Ibovespa devolvesse os 133 mil pontos alcançados na máxima do dia (133.318). Mas a bolsa ainda fechou bem.
… Terminou em +1,34%, a 132.216 pontos, com giro de R$ 24,2 bi. Vale (+1,19%, a R$ 54,46) ampliou os ganhos, colada na força do minério (+2,11%). A empresa entra agora na contagem regressiva para o balanço da noite.
… Os papéis dos principais bancos avançaram firme e em bloco: Bradesco PN (+3,30%; R$ 13,15), Bradesco ON (+2,90%; R$ 11,69), Itaú (+2,10%; R$ 34,09), Banco do Brasil (+0,94%; R$ 28,04) e Santander (+0,52%; R$ 27,04).
… No topo do Ibov veio JBS (+6,38%, a R$ 47,34), que recebeu aprovação da SEC para listar suas ações nos EUA.
… A curva do DI contou com estímulo extra para queimar prêmio de risco. Além da melhora externa, o mercado leu como dovish os comentários do diretor do BC Nilton David, em seminário do JPMorgan, em Washington.
… Segundo ele, a fase de maior aperto da política monetária já passou, o que levou o investidor a especular que o ciclo de alta da Selic possa ser mais curto e que o Copom possa pegar mais leve na dosagem da taxa básica.
… Um dia antes, porém, a ênfase de Galípolo na inflação elevada reforçou a aposta em mais 0,5pp em maio.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 caía para 14,665% (de 14,720% no pregão anterior); Jan/27, a 14,015% (de 14,190%); Jan/29, a 13,855% (de 14,030%); Jan/31, a 14,190% (de 14,330%); e Jan/33, a 14,310% (de 14,440%).
EM TEMPO… HYPERA registrou prejuízo atribuído aos controladores de R$ 140 milhões no 1TRI, revertendo lucro de R$ 392,2 milhões registrado um ano antes…
… Ebitda ficou negativo em R$ 148,5 milhões, revertendo resultado positivo de R$ 647,8 milhões do mesmo período de 2024.
RUMO aprovou aumento de capital de R$ 1,6 bilhão da subsidiária Rumo Malha Sul.
CCR passará a ser negociada na B3 sob o novo código MOTV3 a partir de 2/5; ticker atual da companhia é CCRO3…
… Mudança é decorrente da alteração do nome da empresa, aprovada em AGE pelos acionistas em 21/3, para Motiva Infraestrutura de Mobilidade…
… Companhia aprovou a distribuição de R$ 319,9 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 0,1591 por ação, com pagamento em 6/5.
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